Este assunto acompanha-me há vários anos. Considero uma discussão de extrema importância e não me canso de nele.

Ouvi falar sobre carga mental pela primeira vez num podcast do Gerando novas histórias  e foi completamente transformador. Na altura lembro-me que enviei o episódio para a minha irmã, duas amigas e todas adoraram e diziam, é isto mesmo!

O facto de a mulher ter toda ou quase toda a responsabilidade no planeamento familiar e doméstico, acrescido de mais de metade das tarefas operacionais envolvidas, causa em nós um cansaço imenso, stress e falta de paciência. O que lhe quero mostrar com este artigo é como podemos usar a organização para lidar com esta responsabilidade. Como podemos reduzir ou dividir uma parte deste peso que trazemos connosco diariamente? Usando listas, delegação e divisão e comunicação eficiente.


O que é  carga mental?

A carga mental é o esforço cognitivo envolvido na gestão do seu trabalho, relacionamentos, família e casa. A carga mental é o conjunto de todos os detalhes que planeia e gere ao longo do dia. Tem a ver com as suas responsabilidades, formais ou não, bem como com as decisões que tem que tomar.


Segundo um estudo da P&G, realizado em 2018, que contemplou 2500 casais, 3 em cada 4 mulheres sofre de carga mental. Nos casais, com, e sem filhos, é a mulher que pensa na maioria das coisas que têm que ser feitas para que a vida familiar “ande nos eixos”.

Como é exemplificado no episódio, mencionado neste artigo, enquanto uma mãe dá banho ao seu filho, não é apenas a execução do banho que acontece. É toda uma sequência, tipo checklist  que a mãe prepara e verifica para o banho.

  • Se a toalha foi apanhada do estendal e está bem seca
  • Se o rabo da criança está assado
  • Se a sua pele está hidratada e se existe alguma mazela, arranhão ou nódoa negra
  • Se a roupa que despiu vai toda para lavar ou alguma que possa ser vestida novamente
  • Se lavou a cabeça ontem (no caso de lavar dia-sim, dia-não)
  • Se o pijama está separado e se é suficientemente quente, porque a temperatura baixou.

Percebe? Muitas vezes visto de fora, a mãe está apenas a dar banho, mas é muito mais que isso. É cuidar, enquanto dá banho.

É todo um trabalho desde que o dia começa até que adormece, para as tarefas que acontecem e vão acontecer no resto do dia e da semana.

“As mulheres continuam a ser as gerentes do projeto família e do lar, embora ao longo dos anos tenham sido incorporadas na vida profissional. Elas trabalham fora e dentro de casa, mas o último é um trabalho não remunerado e, às vezes, invisível (além de não reconhecido). A carga ou fardo mental de “sermos as que pensam sempre em tudo”  leva-nos a conversar sobre o assunto, a procurar uma solução para equilibrar esta balança.”

em Procter & Gamble España S.A.

Alguns exemplos de carga mental:

  • Planear refeições
  • Marcar consultas médicas
  • Comprar ração para o cão
  • Levar o cão a passear
  • Verificar se há recados da escola
  • Anotar que as torneiras precisam de ser limpas com o produto do calcário
  • Comprar o presente de anos do colega que faz anos no fim-de-semana
  • Planear as férias
  • Colocar a secar a roupa da natação
  • Ver se é preciso comprar roupa na troca de estação

 

Então, o que podemos fazer para aliviar a carga mental?

O primeiro passo é sem dúvida a tomada de consciência. Ambos devem assumir e entender a existência da carga mental e a desigualdade na sua divisão. É preciso que exista comprometimento e vontade de mudança de todas as partes, senão é impossível atingir resultados.

Na avaliação de vemos escrever tudo o que tem que ser feito. Usar processos. Pode consultar um modelo de processo mais abaixo e descarregar para fazer o seu processo de divisão da carga mental.

A organização da casa e da rotina são grandes aliadas neste processo, por isso, tire partido da organização, para criação de sistemas que sejam mais automáticos, porém adaptados à sua realidade. Se procura ajuda com a organização, convido-a a conhecer melhor as formas de trabalhar comigo.

Esqueça os preconceitos, que em nada ajudam e foque-se em comunicar e ouvir verdadeiramente. A carga mental é um problema cultural, que existe desde os tempos em que a mulher ficava em casa a cuidar dos filhos e era educada para o trabalho de casa e dos filhos. Com a evolução em que a mulher passou a integrar o mercado de trabalho, estas funções acumularam e a sociedade não se adaptou ao facto das mulheres acumularem dois trabalhos a tempo inteiro.

Passos que não deve saltar se quer atingir resultados na partilha:

  • Partilhar com o seu parceiro o que é a carga mental e explicar porque é importante ser dividida. Usar uma comunicação eficiente e sincera. Explicando exactamente como nos podem ajudar. E como nos sentimos quando somos nós a tratar de tudo. Ajuda usar palavras como: sobrecarregada, desapoiada, triste porque não tenho tempo para mim.
  • Aceitar ajuda e entender que não é benéfico para ninguém que façamos (e planeemos tudo sozinhas), não apenas ajuda da família, mas também a nível profissional.
  • Parar e descansar, usar a meditação, a música tranquilizante e atividade física para “obrigar” a nossa cabeça a fazer pausas.
  • Conversar com outras pessoas a passar pelo mesmo.
  • Reduzir os alimentos processados e os açucares da nossa dieta e consumir lanches saudáveis.
  • Introduzir novidades nas rotinas. Pode ser experimentar uma aula ou uma atividade, um novo caminho ou meio de transporte para o trabalho, um posto de rádio que não costuma ouvir.
  • Acalmar antes de dormir e eliminar qualquer estímulo eletrónico, pelo menos uma hora antes de ir dormir.


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Sei que em algumas casas isto já acontece de forma diferente, o que é ótimo, mas se não fôr na sua, não deixe de dizer o que sente. Não deixe de educar os seus filhos rapazes a ajudar tanto como uma rapariga, pois dessa forma dificilmente as coisas vão melhorar.

Não adianta ficar no modo: é obrigação dele; não tenho nada que ensinar, porque também aprendi sozinha, se isso não ajudar a aliviar a carga. Explique ser o mais justo, use exemplos e transmita ser importante para si que as tarefas sejam divididas.

Escolha ser a MÃE POSSÍVEL, ao invés da MÃE PERFEITA, pois nós existimos além da maternidade. Temos direito a ser felizes e só assim seremos boas mães.

Se quiser conte-me nos comentários o que vai fazer para aliviar a sua carga mental.

Convido-a a conhecer o trabalho da Emma, esta cartoonista que escreveu sobre a Carga mental, aliás tenho o livro porque adoro humor relacionado com a vida feminina. Pode encontrar o livro Aqui.

Se quiser ver uma amostra dos desenhos humorísticos dela tem a versão em brasileiro da BD aqui.

 

carga mental e outras desigualdades

 

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